quinta-feira, 14 de junho de 2007

Escaladores de alma, você é um deles?

Pessoal ví essa mensagem do Atila Barros na lista de discussão sobre montanhismo e lembrei da minha primeira travessia Petrô-Terê, quando fui de calça jeans, bota de couro comum e mochila Vidigal...

Escaladores de alma, você é um deles?

Nunca tive patrocínio, jamais ganhei se quer uma passagem de ônibus para Teresópolis, minha primeira mochila não foi da Mammut e minha primeira bota não era Boreal, mesmo assim eu tentei escalar.

Toda essa salada de marcas e esse mundaréu de nomes gringos na rocha às vezesme preocupam, ou melhor, me incomoda. Não sou um grande escalador, e nem estou perto dos grandes nomes da escalada no Brasil, sou fã de todos eles, como todos da minha geração que iniciaram a escalar lendo sobre as conquistas das lendas como Alexandre Portela, André Ilha, Mozart Catão, Sérgio Tartari e muitos outros. A cada vídeo de escalada que pirateava pela internet, e a cada matéria que saia nas poucas revistas de escalada no Brasil, minha vontade de escalar e ir mais longe só crescia, e não seria essa salada das marcas que me colocaria longe das rochas.

No inicio me sentia envergonhado quando caminhava com uma mochila da Trilhas e Rumos e usava a roupa mais surrada para ir a montanha, me sentia um estranho aos olhos dos já mais que preparados membros dos clubes excursionistas. Lembro-me de uma abertura de temporada de montanhismo no Rio de Janeiro, a primeira que participei, quando em uma barraca de um clube excursionista tradicional escutei a logística para se ir à travessia da Serra dos Órgãos (Petrópolis –Teresópolis), eram nomes de equipamentos que nem sonhava em ter, fora a quantidade de coisa que se tinha de lavar, mais uma vez a salada das marcas. Pensei comigo mesmo, como tinha feito este mesmo percurso três vezes sem isso tudo? Será que se tratava da mesma travessia? Será que fui negligente comigo mesmo e com meus amigos? Só fui ter a resposta anos depois.

Escalei durante muito tempo com poucas costuras e mosquetões, revezando corda emprestada de amigos e o pouco equipamento que cada um tinha. Não era o único que escalava assim, rachar uma corda entre amigos era a solução para se continuar escalando.

Hoje me deparo com a garotada que deixa de escalar porque a sapatilha ta apertando, a calça que tenho não serve para caminhar, minha camisa não é de material apropriado para ir à montanha. Já vi gente armado até o pescoço, fantasiado de escalador para fazer Top-Roupe no Grajaú (Rio de Janeiro - RJ), era tanta ferragem na cadeirinha que ficava até ruim de escalar. Parece piada mais não é. Enquanto tem gente que se vira como pode tem gente que se fantasia como quer.

Não sei se isso é fruto das lojas que impõem suas marcas ou do capitalismo que dita a poder aquisitivo até dentro do esporte outdoor. São poucos os que não se importam em estar bem vestido até para ir pro mato, talvez esse fenômeno seja mais visível nas capitais. Vejo a diferença no interior do Brasil, nas cidades mais afastadas dos grandes centros. Quando viajo para escalar no interior deMinas Gerais, vejo a garotada mandando V1 e V3 de sapatilha rasgadinha dos lados e pouco se preocupando se ta usando camisa da solo e bermuda da By. Eles só querem escalar, estar ali, perto da rocha. Sonham em ser um Chris Sharma só para mandar um Dreamcatcher 11b/11c ou correr o mundo para um dia ver uma montanhacom gelo.

Uma vez escalando em São Tomé das Letras, Minas Gerais, pude sentir na pele essa verdade. Emprestei minha Boreal para um dos meninos que escalam por lá, ele estava me dando as dicas de um bloco quando perguntei se ele queria entrar para tentar, passei minha sapatilha pra ele como sempre fazemos entre amigos que escalam juntos, ele me disse que nunca usara uma bota importada, e pouco usou uma nacional, a que ele usava era um Kichute com as travas serradas. Ele mandou o bloco sem nem mesmo suar para passar no Crux. Depois de anos tive a resposta para uma velha pergunta que fiz a mim mesmo.

"Existem dois tipos de escaladores, os de alma e os de fim de semana. Os escaladores de alma só querem estar onde deveriam, perto das rochas ou no topo de uma montanha, os escaladores de fim de semana também estão onde deveriam estar, dentro das lojas e nas listas de e-mail dando trabalho para os moderadores."

Força sempre e boas escaladas!
Atila Barros
http://www.sitedocem.org.br/
http://www.montanha.bio.br/

2 comentários:

André Zancanaro disse...

Ae seu franga, até que enfim você postou alguma coisa aqui hein??? Você esqueceu de postar quando escalou o dedo de kichutão, hahahahahahahaha...

Bruno Campbell disse...

Opa Marcelo, tudo bem?

Achei através do Google o teu blog, e me identifiquei bastante com este post dos "Escaladores de alma", hehe...

Apesar de eu não praticar escaladas (faço apenas trilhas), já vi bastante dessas situações onde as pessoas só gostam de discutir as marcars e etcs, enquanto eu estava apenas interessado em sentir o vento no rosto, lá no alto da montanha; eu tenho uns quebra-galhos bem meia-boca, haha, e só :)

Ótimo flog, fotos e jornadas!

Abraço...