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quarta-feira, 29 de abril de 2009

Bivacar - Um mal (as vezes) necessário.


Bivacar significa básicamente "estacionar ao ar livre" é uma prática ancestral desenvolvida desde os primórdios da civilização e está intrinsecamente atada a evolução humana. Pode-se dizer que bivacar é uma forma rústica de criar um abrigo se valendo de criatividade e improviso seja com pedras, roupas, cadarços de sapato ou mesmo em abrigos naturais com árvores e reentrâncias de uma rocha por exemplo. Do inglês 'bivy' ou do francês 'bivouac' a palavra bivaque indica a prática do impoviso em pernoitar ou se abrigar nas áreas naturais sem possuir equipamentos específicos de camping.

O bivaque foi durante anos (ou séculos) praticado e divulgado por exploradores, exércitos e mais recentemente também por escoteiros, entretanto os mesmos realizavam o bivaque de uma forma predatória e de alto impacto na Natureza valendo-se indiscriminadamente dos recursos disponíveis para o improviso de abrigos e diversas outras ferramentas úteis aos propósitos de suas atividades, deixando sempre para trás montes de árvores cortadas e vegetação derrubada. Hoje não existe mais desculpas para prática de tal ato, salvo alguma emergência em caso de queda de aeronaves, náufragos ou pessoas perdidas em matas.




Existem infelizmente até os dias de hoje pessoas que praticam o bivaque predatório desconhecendo ou fazendo vista grossa para o fato de que não nos resta muitas áreas de floresta nos dias de hoje, e que é muito fácil obtermos alguns ítens reutilizaveis para a realização de um bivaque sem degradar a natureza, como toldos de nylon, cordins, sacos plásticos, etc.






Na minha opinião o melhor bivaque nos dias de hoje é o do tipo planejado, ou seja, no qual o excursionista leva consigo alguns apetrechos que o permitam improvizar um abrigo em qualquer terreno tais como lonas plásticas, toldos de nylon que serão articulados juntamente com características de algum abrigo natural que o terreno possa proporcionar bem como pedras e vegetação morta, como galhos e folhas. O beneficio principal nessa prática é fazer com que o excursionista diminua drásticamente o peso de sua bagagem, fazendo com que o mesmo tenham maior desempenho ao percorrer uma rota, no caso de um montanhista por exemplo. Isso tudo a custa de um pouco de desconforto pois tudo tem um preço.

Existem também alguns ítens pré-fabricados de bivaques como redes, toldos que viram barracas se acoplados aos bastões de caminhada e também sacos de bivaque que funciona como um casulo onde o montanhista entra juntamemente com seu equipamento e fica protegido das intempéres, veja abaixo alguns modelos de bivaque.

Um bivaque é sempre uma ótima forma de se fazer um excelente programa de índio no melhor dos estilos "perrengue controlado" que eu particularmente ADORO!

Boas escaladas e caminhadas para todos,

André Zancanaro.

Bivaque com rede.

Bivaque aproveitando uma árvore como suporte



Bivaque em abrigo natural


Bivaque hi-teck com abrigo acoplado a bicicleta utilizando uma de suas rodas como suporte.

Saco de bivaque impermeável.

sábado, 3 de maio de 2008

Survivorman: Excursionismo no limite.


Para quem ainda não conhece o tal do Survivorman eu explico. Trata-se de um seriado (facilmente achado no e-mule) no formato aproximado a um reality show, onde um cara chamado Les Stroud passa homéricos perrengues em ambientes hostis e inóspitos (montanhas, pântanos, desertos, ilhas, selvas) durante cerca de sete dia. Ele é deixado na região, sozinho, com um kit básico de sobrevivência que varia de acordo onde ele vai e também uma penca de mini-câmeras de filmagens, baterias e tripé. No decorrer do "perrengão" ele vai documentando tudo por meio das câmeras e o resultado é um episódio bem interessante que acaba ensinando técnicas de sobrevivência aos expectadores, sem falar na camelação total que o cara passa. O programa fez tanto sucesso que já estão aparecendo outros similares como o "A prova de tudo", que é parecido mas bem mais nojento, pois o camarada desse programa é capaz de comer até merda se for necessário, diferente do Survivorman que é mais conservador.

É bom salientar que o conhecimento de técnicas de sobrevivência em ambientes hostis é extremamente importante, principalmente para excursionistas e montanhistas, porém a capacidade de planejamento e logística são muito mais. Um bom excursionista ou montanhista deve prezar pela segurança de sua estadia em locais remotos, mas se não tiver outro jeito vai ser bom saber se virar.

terça-feira, 1 de abril de 2008

A “vaca” nossa de cada dia.

Lá está você, acaba de passar o crux da via, encaixa a costura com uma baita dificuldade, com a perna tremendo igual na máquina de costura da avó, pois parece que o cara que abriu a via tinha dois metros e meio de altura, aí puxa aquele montão de corda para clipar, quando de repente “crek”, aquela agarrinha que você estava pinçado se quebra. Aí pra variar sua perna enrosca na corda, cambalhota, capacete batendo na pedra, vixi... Isso é uma senhora vaca!
Quem de nós, num lance meio exposto ou num esticão já não deu aquela parada, olhou para baixo lá onde colocamos a última costura e pensamos: “Putz, se eu cair agora eu to ferrado...” ou “Será que vai aguentar?” ou mesmo “O que eu estou fazendo nessa BAGAÇA!” . Não tem jeito macacada, se você quer escalar você VAI LEVAR VACA, a menos que você passe a vida escalando no top-rope ou indo nas escaladas só pra dar “seg” pra galera.
Mas não é só iniciante que tem esse problema não, muita gente que já escala quando fica muito tempo de molho quando volta acaba dando sinais de “encagaçamento” , sim esse é o termo que gosto de utilizar. Mas a pergunta que fica no ar é a seguinte: Como “desencagaçar” um escalador cagão? hahahahahahaha... Bem, existem várias formas, mas o quesito principal para escalar sem cagaço é confiar na resistência e funcionamento do equipamento e no seu parceiro de escalada, sem isso não tem jeito, só se o cara for um Dan Osman da vida. Escalar sempre, é outra forma de gradualmente vencer o cagão que existe dentro de você! hahahahahaha... Procure sempre escalar vias que já fazia em top, mas agora guiando. Faça uma boa leitura da via antes de guiar, tentando identificar alguma passagem crítica e quando estiver escalando preocupe-se sempre com o que está pra cima, sem demorar, sem parar para pensar muito. Num momento mais oportuno iremos expor nesse blog algumas dicas valiosas para afiar os nossos nervos para as guiadas mais complicadas, mas por enquanto fiquem com esses vídeos com umas vacas deliciosas. E deixe de ser cagão, toca pra cima!





quinta-feira, 27 de março de 2008

Dicas de boa convivência na trilha.

Nas diversas caminhadas e travessias que já realizei naturalmente me deparei com inúmeros caminhantes em grupos grandes, pequenos, caminhando sozinhos ou até em dificuldades por terem perdido o rumo ou por terem se ferido. O fato é que a maioria das caminhadas no montanhismo são em áreas remotas, muitas vezes longe dois ou três dias de áreas urbanas por isso é muito importante manter um relacionamento sociável com os demais excursionistas, não só pela boa e velha educação e cordialidade mas também pelo fato de que você terá de recorrer a ELES caso se meta em alguma roubada na montanha.

Certa vez no meio da travessia Petrópolis - Teresópolis me deparei com um grupo grande de pessoas na trilha, pelo menos umas quinze pessoas que estavam subindo uma encosta da qual eu estava descendo. Gentilmente eu e meus companheiros saímos pela borda da trilha para o pessoal não perder o ritmo da passada. Para nosso espanto NINGUÉM sequer OLHOU para nossa cara para cumprimentar ou agradecer exceto um dos guias do grupo que passou por último. Parou, nos cumprimentou, perguntou de onde éramos e disse que aquela era uma excursão de uma operadora da cidade de São Paulo. Após esse ocorrido comecei a prestar mais a atenção e acabei constatando empiricamente que a realidade é que infelizmente a frieza e a falta de comunicação dos grandes centros urbanos acaba sendo trazida para trilha junto com alguns excursionistas que habitam estas localidades, é claro que não posso generalizar mas é o que venho observando. Muita gente nem olha do lado, não te cumprimenta, se julga superior por possuir equipamentos de última geração, acha-se imune a toda sorte que o ambiente de montanha pode oferecer, esquece-se que cada pessoa é única e também possui conhecimentos amplos em alguma coisa, pois ninguém “sabe tudo”. Enfim, tem muita gente levando o stress e a competição egoísta das grandes metrópoles para cima da montanha.

Para de alguma forma tentar minimizar estes desentendidos exponho aqui algumas regras básicas de etiqueta e conduta específica (sob meu ponto de vista) para caminhadas e travessias.

Regrinhas:

  1. Seja educado, voluntarioso e sociável com todas as pessoas que encontrar pelo caminho, sejam eles moradores locais ou excursionistas experientes.

  2. O ritmo do seu grupo deverá ser dosado pelo integrante mais lento.

  3. Não caminhe colado no companheiro a sua frente. Dê um espaço de pelo menos 7 a 8 passos.

  4. Não fique muito longe do companheiro a sua frente. Se você caminhar de modo a perder seu companheiro de vista fará com que ele tenha que parar continuamente para te esperar.

  5. Dê uma olhada para trás antes de entrar em bifurcações. Se o companheiro que vem atrás transgrediu a regra acima ele poderá se perder caso entre pela vertente errada da trilha.

  6. Fique na beirada da trilha caso necessite amarrar a bota, ajustar a mochila ou mesmo admirar a vista.

  7. Peça licença de forma gentil para passar quando um excursionista de outro grupo estiver em ritmo mais lento a sua frente.

  8. Quando seu grupo estiver descendo uma encosta e outro subindo, fique na beirada e deixe os que estão subindo passar para que o ritmo deles não seja quebrado, quem sobe tem a preferência. Cumprimente todos os integrantes do grupo, ou ao menos sorria para eles.

  9. Preocupe-se em mater um passo que todos do grupo possam acompanhar. Ao parar para descançar lembre-se que o integrante mais lento também deverá se recuperar. O que acontece geralmente é que quando o mais lento chega os mais rápidos já estão saindo, tente evitar isso.

  10. Não grite, não xingue, não passe por cima de ninguém para conseguir uma área de camping boa, siga as regras de mínimo impacto.

Enfim, tenha bom senso e educação.

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terça-feira, 25 de março de 2008

Kit perrengue: Um dia você ainda vai usar um!

Todo mundo está careca de saber que a prática do montahismo está ligada diretamente ao risco. Risco de tomar chuva, risco de queda, risco de levar um raio no traseiro, risco de fraturas, hipotermia, risco de calcular mal algum suprimento e passar perrengue na atividade, risco de ter que vestir mesmo um paleto de madeira, enfim o legal do montanhismo (pelo menos para mim) é justamente ter que trabalhar a extratégia e a logística para se minimizar a possibilidade de ocorrência das famosas "roubadas". Tem até uma comunidade no Orkut direcionada ao público escalador que se chama "quem não arrisca não se phode" do nosso colega Bernardo Collares Arantes que a meu ver, ilustra humoristicamente bem o fator risco na escalada e no montanhismo de uma forma geral. Mas é bom salientar que o bom senso e experiência são sempre indicados para que a gente não se "phoda" muito em uma atividade.

Apesar de existir outras variações vou relacionar aqui alguns ítens importantíssimos na mochila de qualquer montanhista que se preze, é o famoso KIT PERRENGUE que muitas vezes é carregado na mochila mas só é efetivamente utilizado na hora que o capeta está espetando nosso rabo! São eles:

1-) Mapa ou croqui de via (ou os dois):
Sempre carregue um mapa da área que você vai visitar, de preferência plastificado ou envolto em algum plástico protetor. Aprenda a utiliza-lo. Também é válido coletar antecipadamente algumas informações com pessoas que já realizaram o trajeto, para isso utilize as listas de discussão, centros excursionistas, e-mails, internet, enfim...

2-) Bússola:
Muita gente vai falar: Mas eu uso GPS!
Eu digo: E se o GPS der pau? Na época do Cabral tinha GPS? hehehe... Tenha uma bússola e saiba usá-la. O Sérgio Beck tem um livrinho bom sobre bússola, neste site: www.livrosdobeck.com

3-) Lanterna ou headlamp:
Sempre tenha uma fonte de luz a prova de chuva (muito importante) e com uma boa autonomia de funcionamento, além de pilhas novas de reserva.

4-) Comida extra:
Mesmo que você tenha certeza que vai escalar/caminhar e voltar no mesmo dia SEMPRE leve um ranguinho a mais (chocolate, queijo duro, frutas duras, frutas cristalizadas, salame, etc), nunca se sabe se você vai se machucar, se perder, ficar preso na via, etc. De preferência algo que não precise cozinhar.

5-) Anorak e roupa extra:
No caso de chuva ou vento o anorak vai te adiantar um bom lado, além de uma camiseta, blusa de fleece, cueca e meias secas. Aqui eu estou colocando algumas peças a mais do que costumo levar mas o anorak e uma blusa seca são essênciais.

6-) Manta térmica ou saco de bivaque:
Aquelas mantas de plástico tipo as que os bombeiros usam para isolar acidentados, são muito boas para improvisar abrigos e pode ser levada dobradinha dentro do estojo de p.s.. Também há alguns que preferem levar um saco de bivaque que possibilita o montanhista criar um casulo impermeável para se proteger de intempéries.

7-) Kit de primeiros socorros:
Algo básico, tipo aqueles kits de carro, com bandagens, esparadrapo, antistamínicos e algum medicamento específico necessário. Também é bom acrescentar protetor solar e purificador de água.

8-) Canivete de bolso:
Um canivete multifuncional de seu gosto que possibilite cozinhar, abrir latas, soltar parafusos, enfim, algo que lhe permita uma boa gama de soluções apesar do pouco espaço que ocupa.

9-) Fogo:
Isqueiro, fósforos, ou qualquer coisa capaz de emitir faíscas. Numa emergência talvez você seja obrigado a cozinhar ou mesmo fazer uma fogueira para se aquecer (sempre seguindo as regras do mínimo impacto, clique aqui).

10-) Água:
Recipiente onde você possa armazenar e transportar água.

11-) Telefone celular:
Hoje em dia temos cobertura nos locais mais longinquos e um celular além de barato é leve e compacto. Esse aparelho é o responsável por salvar muita gente em roubadas. Dias atrás fiquei sabendo de escaladores que ficaram presos numa via no Pico Maior em Salinas e que só puderam ser resgatados depois de ligarem para o abrigo do Portela, portanto o celular é uma opção válida e decisiva no acionamento de um possível resgate. Não esqueça de deixá-lo com créditos suficientes, bateria carregada, desligado (só usar quando precisar) e protegido de chuva. E lógicamente, tenha anotado os possível telefones necessários para solicitar resgate.

Existem outros ítens interessantes de se levar como repelente de insetos, óculos escuros, cordeletes ou barbantes, pequena latinha que pode ser útil para cozinhar algo, etc. Muita coisa útil pode ser implementada a este kit com o cuidado de sempre matê-lo leve e compacto, mas acredito que os mais importantes são os citados acima.

Para não esquecer de nada numa escalada/caminhada sempre faça um checklist (veja o nosso) de todo material necessário para sua empreitada e sempre esteja atento aos fatores climáticos e a tudo que possa interferir na segurança sua e de sua equipe.

Texto por: André Zancanaro - www.azimutantes.blogspot.com

sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008

Técnicas de Montanhismo na internet: Problema ou solução?

Com a popularização da internet multiplicaram-se também uma infinidade de sites, blogs e portais sobre diversas modalidades esportivas e de aventura, dentre elas o Montanhismo. 

Na verdade o Montanhismo é o nome que classifica o ato de se galgar montanhas, seja por uso de equipamentos técnicos ou não. Uma atividade que requer obrigatóriamente a observação, conhecimento técnico, experiencia prática, preparo físico e equipamentos adequados as sub-modalidades a que o praticante se disponha a realizar. As sub-modalidades dentro do Montanhismo são várias, de caminhadas simples em campos de altitude até escaladas a grandes paredes com a necessidade de uma infinidade de aparatos que demandam extrema capacidade técnica e logística.

É necessário salientar que o Montanhismo é uma atividade de risco onde o desafio principal é superar os obstáculos prevendo, calculando e transpondo estes riscos afim de completar o percurso, chegando a um cume ou atravessando uma rota. Obstáculos estes que não são somente físicos, logísticos ou meteorológicos mas também psicológicos, pois cada indivíduo tem dentro de si seus próprios receios e limitações, os quais são determinantes saber controlar e respeitar para não correr riscos desnecessários ou mesmo colocar todo um grupo em uma situação ruim. Portanto é
extremamente necessário saber que quem quer que se disponha a buscar conhecimentos de Montanhismo que não o faça única e exclusivamente na Internet ou por livros, que são fontes de informação adicional mas NUNCA poderão substituir um curso presencial onde as técnicas são ensinadas na PRÁTICA por um professor capacitado e experimentado e caso seja possível homologado por alguma Federação (FEMESP, FEMERJ).

Amigos Montanhistas, tenham senso crítico para aproveitar as informações da internet, absorvam as que lhes forem úteis filtrando e analisando o conteúdo e a razoabilidade de cada uma delas mas nunca se esqueçam de que o mais importante é fazer um bom curso e escalar bastante! E não esqueça do capacete!

domingo, 17 de fevereiro de 2008

Escalar para que?

Depois de assistir um comediante no YouTube! fazendo uma piada (para mim, sem graça nenhuma) sobre essa questão, resolvi aqui dar a minha opinião de montanhista, alpinista, escalador ou seja lá como se queira designar.

Em março de 1923, George Leigh Mallory foi perguntado por um jornalistas do New York Times sobre "por que escalar o Everest", foi quando respondeu: "Porque ele está lá".

Se você é escalador já sabe a resposta para essa pergunta, ou pelo menos tem a sua, já uma pessoa que não vivencia ou se interessa pelo mundo do montanhismo difícilmente compreenderá o significado de concluir uma travessia em montanha, encadenar uma via, chegar a um cume depois de "trocentas" cordadas, elas se perguntam: Escalar por que? Se ferrar dias a fio pra chegar num cume e descer, pra que?!

Talvez se eu fosse perguntado por que escalo eu diria que escalo porque POSSO e principalmente porque QUERO (existem os que querem, mas não podem), poderia também citar outros motivos como as vistas maravilhosas (que só os alpinista vêem e principalmente SENTEM), o vento na cara, a liberdade, o fato de superar minhas próprias limitações físicas e psicológicas, a prática do companheirismo e cooperativismo para a consecução de um fim comum, mas principalmente uma forma de buscar a celebração da minha vida e saúde, além de esquecer (mesmo que temporáriamente) os estresses e as frustrações da rotina diária.

Enfim, escalar para mim é VIVER e pretendo MORRER VIVENDO, com o vento na cara e vencendo meus obstáculos internos, o que a meu ver é imensurávelmente melhor do que morrer GORDO, sentado numa poltrona assistindo Faustão e fazendo piadinhas super engraçadas como essa abaixo! hehehehehe... Pô, queria ouvir uma piadinha de GORDO FRUSTRADO, ia ser legal!!!

Vejam o vídeo:

quinta-feira, 14 de junho de 2007

Escaladores de alma, você é um deles?

Pessoal ví essa mensagem do Atila Barros na lista de discussão sobre montanhismo e lembrei da minha primeira travessia Petrô-Terê, quando fui de calça jeans, bota de couro comum e mochila Vidigal...

Escaladores de alma, você é um deles?

Nunca tive patrocínio, jamais ganhei se quer uma passagem de ônibus para Teresópolis, minha primeira mochila não foi da Mammut e minha primeira bota não era Boreal, mesmo assim eu tentei escalar.

Toda essa salada de marcas e esse mundaréu de nomes gringos na rocha às vezesme preocupam, ou melhor, me incomoda. Não sou um grande escalador, e nem estou perto dos grandes nomes da escalada no Brasil, sou fã de todos eles, como todos da minha geração que iniciaram a escalar lendo sobre as conquistas das lendas como Alexandre Portela, André Ilha, Mozart Catão, Sérgio Tartari e muitos outros. A cada vídeo de escalada que pirateava pela internet, e a cada matéria que saia nas poucas revistas de escalada no Brasil, minha vontade de escalar e ir mais longe só crescia, e não seria essa salada das marcas que me colocaria longe das rochas.

No inicio me sentia envergonhado quando caminhava com uma mochila da Trilhas e Rumos e usava a roupa mais surrada para ir a montanha, me sentia um estranho aos olhos dos já mais que preparados membros dos clubes excursionistas. Lembro-me de uma abertura de temporada de montanhismo no Rio de Janeiro, a primeira que participei, quando em uma barraca de um clube excursionista tradicional escutei a logística para se ir à travessia da Serra dos Órgãos (Petrópolis –Teresópolis), eram nomes de equipamentos que nem sonhava em ter, fora a quantidade de coisa que se tinha de lavar, mais uma vez a salada das marcas. Pensei comigo mesmo, como tinha feito este mesmo percurso três vezes sem isso tudo? Será que se tratava da mesma travessia? Será que fui negligente comigo mesmo e com meus amigos? Só fui ter a resposta anos depois.

Escalei durante muito tempo com poucas costuras e mosquetões, revezando corda emprestada de amigos e o pouco equipamento que cada um tinha. Não era o único que escalava assim, rachar uma corda entre amigos era a solução para se continuar escalando.

Hoje me deparo com a garotada que deixa de escalar porque a sapatilha ta apertando, a calça que tenho não serve para caminhar, minha camisa não é de material apropriado para ir à montanha. Já vi gente armado até o pescoço, fantasiado de escalador para fazer Top-Roupe no Grajaú (Rio de Janeiro - RJ), era tanta ferragem na cadeirinha que ficava até ruim de escalar. Parece piada mais não é. Enquanto tem gente que se vira como pode tem gente que se fantasia como quer.

Não sei se isso é fruto das lojas que impõem suas marcas ou do capitalismo que dita a poder aquisitivo até dentro do esporte outdoor. São poucos os que não se importam em estar bem vestido até para ir pro mato, talvez esse fenômeno seja mais visível nas capitais. Vejo a diferença no interior do Brasil, nas cidades mais afastadas dos grandes centros. Quando viajo para escalar no interior deMinas Gerais, vejo a garotada mandando V1 e V3 de sapatilha rasgadinha dos lados e pouco se preocupando se ta usando camisa da solo e bermuda da By. Eles só querem escalar, estar ali, perto da rocha. Sonham em ser um Chris Sharma só para mandar um Dreamcatcher 11b/11c ou correr o mundo para um dia ver uma montanhacom gelo.

Uma vez escalando em São Tomé das Letras, Minas Gerais, pude sentir na pele essa verdade. Emprestei minha Boreal para um dos meninos que escalam por lá, ele estava me dando as dicas de um bloco quando perguntei se ele queria entrar para tentar, passei minha sapatilha pra ele como sempre fazemos entre amigos que escalam juntos, ele me disse que nunca usara uma bota importada, e pouco usou uma nacional, a que ele usava era um Kichute com as travas serradas. Ele mandou o bloco sem nem mesmo suar para passar no Crux. Depois de anos tive a resposta para uma velha pergunta que fiz a mim mesmo.

"Existem dois tipos de escaladores, os de alma e os de fim de semana. Os escaladores de alma só querem estar onde deveriam, perto das rochas ou no topo de uma montanha, os escaladores de fim de semana também estão onde deveriam estar, dentro das lojas e nas listas de e-mail dando trabalho para os moderadores."

Força sempre e boas escaladas!
Atila Barros
http://www.sitedocem.org.br/
http://www.montanha.bio.br/

quinta-feira, 24 de maio de 2007

Perrengue no Dedo de Deus em 1998!






"Quando tudo parecia horrível e nada poderia ser pior fomos surpreendidos por uma torrencial chuva que nos acompanharia até o final. O frio e a fome, nos esperavam no caminho."




Quem de nós montanhistas, pelo menos uma vez na vida não nos deparamos com uma situação realmente difícil? Seja por causa de alguma intempérie, frio ou perda de rumo, que quase sempre nos apanham de surpresa devido a nossa inexperiência, distração ou quando subestimamos a Natureza. E quando tudo passa, na maioria das vezes, ficamos calados sobre o ocorrido e não contamos a ninguém, tal qual uma criança que fez coisa errada e tem medo de apanhar da mãe. A minha opinião é que estas situações devem ser contadas sim, pois desta forma é possível que alguns aprendam com os nossos erros. Infelizmente é difícil achar textos como este na internet pois o orgulho e a vaidade de muitos não os permitem expor suas más histórias. Visto de um lado bom, passar por estas situações serve para endurecer o nosso couro e nos fazer aumentar o senso de avaliar de forma eficaz, diversos pontos que podem ser vitais a nossa segurança porém, visto de um lado pessimista estas situações podem também nos levar a morte.
No outono de 1998, em plena Serra dos Órgãos, eu e meu companheiro de escalada fomos surpreendidos por um acontecimento desta natureza quando retornávamos do cume do Dedo de Deus. Foi um verdadeiro perrengue.
Tudo começou numa bela manhã na serra de Teresópolis. O céu estava extremamente azul e límpido, era sete horas da manhã aproximadamente. Pegamos uma carona até a entrada da trilha e quando íamos começar a caminhar olhei em direção a baía de Guanabara onde pude avistar na linha do horizonte, algumas nuvens. Neste momento indaguei meu companheiro sobre a possibilidade da chegada de mal tempo, porém devido ao céu límpido e a vontade que estávamos de chegar no cume, logo nos convencemos que aquilo não chegaria lá antes de descermos. Pois bem, iniciamos a trilha, passamos pelos cabos e logo já estávamos na base da via Teixeira, que era por onde começaríamos nossa escalada. Escalada esta, que foi maravilhosa. Clima ótimo, não havia ninguém no Dedo aquele dia. Subimos bem devagar curtindo o visual, tirando fotos, contando piadas. Uma beleza de escalada. Se bem me recordo chegamos ao cume e por lá permanecemos até umas 15:30 hs. ou 16:00 hs. que é o horário mais seguro para que se possa chegar a saída da trilha ainda de dia. Tudo tranqüilo até então...
Começamos a descer a Teixeira e 16:30 hs. já estávamos em sua base. Pronto! Apesar do aparente bom tempo, dizíamos: o pior ponto para sermos surpreendidos por uma chuva já passou. Agora é só descer os cabos, a trilha e acabou. Ledo engano. Esta hora o destino começava a conspirar contra nós.
Chegando no primeiro cabo, coloquei minhas luvas e comecei a descê-lo. Após uns dois lances meu companheiro de escalada começou a sentir dores no braço e comunicou a sua intenção de rapelar os lances do cabo com a sua corda dinâmica, pois desta forma poderia se poupar da dor que estava sentindo. De início percebi que o tempo despendido para ele realizar os rapeis seria bem maior do que o que levaríamos para descer os cabos no braço mas, mesmo assim, concordei. Desci os cabos e esperei meu companheiro no último lance onde realmente teríamos que usar a corda. Mal sabíamos que aquele tempo a mais que gastaríamos com os rapeis seria determinante para que nos encontrássemos com o que estava por vir. Este foi nosso primeiro grande erro.
Continuamos e percebemos que o clima começava a esfriar. O céu azul dava agora lugar à nuvens carregadas que chegavam pouco a pouco, juntamente com aquele borrifar suave que até era agradável. Aproximadamente as 17:45 hs., realizado o último rapel, paramos para guardar os equipamentos nas mochilas. Não estavam pesadas, pois somente levamos blusas comuns, chocolates, equipamentos e água, que já estava no final. Nenhum anorak. Nosso segundo grande erro.
Tudo pronto para iniciarmos a trilha, quando para nossa surpresa, um nevoeiro muito espesso tomou conta de tudo, uma verdadeira parede branca. Eram as nuvens que estavam no horizonte que tinham chegado para nos dizer "olá". Tudo era branco e a visibilidade era quase zero. Nem raciocinamos, pois tudo que queríamos era sair bem rápido dali. Ligamos nossas lanternas frontais, pois já estava escurecendo e a temperatura caia rápido. Começamos rapidamente a descer a trilha. Tudo estava bem até percebermos que aquela não era a trilha correta e sim uma falsa trilha feita por algum montanhista distraído que andou por lá antes de nós entretanto, mais distraídos fomos nós que adentramos pelo caminho incorreto. Até hoje não entendo o porquê mas em vez de voltarmos ao ponto de onde havíamos partido resolvemos, então, contrariando totalmente as regras básicas de orientação, continuar nesta rota, tentando, inicialmente, achar a trilha verdadeira em meio ao nevoeiro. Como se já não bastasse este foi o terceiro grande erro.
Quando tudo parecia horrível e nada poderia ser pior fomos surpreendidos por uma torrencial chuva que nos acompanharia até o final. O frio e a fome, nos esperavam no caminho.
O caminho que pegaríamos nesta etapa da nossa provação seria o que conseguíssemos enxergar e logicamente, para baixo, em direção aos ruídos da então distante auto-pista Rio-Teresópolis. Não poderíamos parar para nada, pois se assim fizéssemos a hipotermia certamente nos encontraria. O problema é que como não enxergávamos nada e estávamos fora da trilha em meio a vegetação, buracos e precipícios, seria arriscado caminharmos sem alguma segurança, então resolvemos montar consecutivos rapeis nas áreas mais íngremes usando as árvores como ancoragem, e tomando muito cuidado para que não houvesse um quarto grande erro. Este procedimento atrasou consideravelmente nossa progressão.
Foram rapeis e mais rapeis, parecia que não ia mais ter fim. Às vezes a corda enroscava e fazíamos uma força sobrenatural para puxá-la. Já estávamos exaustos e com muito frio. Lembro do meu companheiro fazendo uma piada bem no meio dessa situação. Fiquei bravo e disse que aquela não era uma boa ocasião para piadas. Só depois fui perceber que bom humor nestas ocasiões é uma verdadeira virtude.
Quando pensamos que já estávamos pra lá de ferrados, nos deparamos com uma pirambeira. Logo percebi que era um barranco bem alto, pois não conseguia ver nenhuma árvore à minha frente, só via aquela massa branca sendo atravessada pelo facho da minha lanterna. E agora? Pensei. E se a corda não for suficiente para descer esta bibóca? Resolvi descer mesmo assim. Peguei um jumar e um cordim, meu companheiro preparou o rapel, "nozão" na ponta da corda e comecei a descer. Descia vagarosamente e olhava para baixo, sem conseguir ver nada além da espessa neblina acompanhada de chuva. Lentamente descendo para o desconhecido. Passado uns segundos, consegui avistar o nó da ponta da corda e abaixo dele havia somente o branco da neblina e chuva que reluzia. Resolvi, então, descer o mais próximo possível do nó, quando para minha surpresa, como se fosse um milagre, aterrissei meus dois pés em chão firme. Foi impressionante!
Após este ponto ainda havia mais alguns infortúnios nos aguardando, não bastasse o frio que estávamos experimentando. A chuva e a neblina apertaram e de repente a lanterna de cabeça do meu companheiro simplesmente se apagou definitivamente. Justamente na hora em que preparávamos mais um rapel para descer outra pirambeira! Que azar! Tudo bem! Dizia eu: já que estamos no inferno vamos abraçar o capeta!
Sem luz, fatalmente ocorreria uma demora para que meu companheiro efetuasse a descida e foi o que aconteceu. Terminada a minha descida gritei para avisá-lo de que já poderia se conectar ao sistema, porém devido a chuva ele não me escutava e até conseguirmos nos comunicar passaram-se quase meia hora, somente neste trecho. O problema é que este tempo que eu ficava esperando meu companheiro, que estava vagaroso devido a falta de iluminação, eu ficava parado, sem anorak e exposto ao vento e a chuva. Logo comecei a sentir os sintomas da hipotermia. Passado algum tempo escutei barulhos na vegetação logo acima de mim, como se alguém estivesse se debatendo. Aumentei o facho de luz de minha lanterna e avistei meu companheiro descendo o rapel de uma forma meio desajeitada. Certamente devido à parede irregular, cheia de vegetação e ao fato de não estar enxergando absolutamente nada. Do ponto onde consegui iluminá-lo até o final tudo foi bem.
Depois de uns 40 rapéis nos debatendo dentre a vegetação, horas de frio e fome, barrancos vencidos mas ainda havíamos de descer. Andamos mais um tempo e chegamos a um riacho que resolvemos seguir, depois de mais uma hora, vimos passar por trás das árvores os faróis de um barulhento caminhão. É isso mesmo! Neste momento estávamos ao lado da estrada da serra de Teresópolis e só conseguimos enxergá-la através da densa neblina porque um caminhoneiro estava subindo a serra às 3:30 hs. da manhã! Você não leu errado não! Eram 3:30 hs. da manhã sim! O início deste perrengue se deu às 17:30 hs. e teve fim às 3:30 hs. da manhã, ou seja, 11 horas de "teste" no meio da Serra dos Órgãos. No momento em que pisamos no asfalto foi o momento em que entendemos que realmente alguém "lá em cima" olhava por nós. Este foi o momento em que a minha lanterna Duo se apagou de uma vez. Ela não fraquejou sequer um minuto durante quase doze horas mas quando colocamos o pé no asfalto e estávamos seguros ela simplesmente "descansou". Desde então ela é meu amuleto da sorte.
Este acontecimento, sem dúvida, serve para mostrar que não devemos nunca subestimar a mãe Natureza e que devemos estar sempre bem preparados para evitar um infortúnio como este. Teresópolitano que sou, me senti um perfeito imbecil, pois sempre soube que o clima na Serra dos Órgãos é traiçoeiro. Já presenciei "trombas d'água" e tempestades naquele local e sei que do céu azul e límpido para o "russo" total é uma questão de minutos! Sempre foi e sempre será assim. O melhor a fazer neste dia seria um bivaque para esperar o clima melhorar, porém não havíamos levado nenhum equipamento que nos permitisse improvisar um abrigo, nem ao menos um anorak que é peça obrigatória na mochila de qualquer escalador. Achei que não íamos precisar de nada além de alguns chocolates, água e equipamentos pois além do clima estar ótimo naquela manhã, todas as vezes que havia escalado o Dedo levei menos de uma hora para percorrer a trilha de volta. Em um dia normal, é claro. Hoje, anos depois posso afirmar que a probabilidade de um fato como este ocorrer novamente comigo é imensamente menor que outrora. Que esta história sirva de exemplo para outros montanhistas para que não tenham que aprender da maneira áspera que eu e meu companheiro tivemos que engolir.

DETALHE: Mais de uma década depois deste ocorrido até repórteres da rede Globo acompanhados de escaladores experientes são surpreendidos pelo clima traiçoeiro da Serra dos Órgãos, vejam:  
http://www.youtube.com/watch?v=9ZxEQ4TB6xA  
http://www.youtube.com/watch#!v=G_4ugpyjny4&feature=related

quarta-feira, 28 de fevereiro de 2007

Escalar é preciso!

Fotos de algumas escaladas do nosso grupo.

Esse aí é o Miltão numa via lá em Andradas em julho de 2004.

Esse aí sou eu aplicando as técnicas aprendidas no curso de auto-resgate da extinta Associação da Montanha de Bragança Paulista.

Galerinha da Associação da Montanha. Infelizmente a AM deve de ser encerrada por falta de participação da galera, uma pena.

As vezes acontece quando a agarra quebra ou a mão escapa...

Aqui é o Silas quando a gente saia de Jundiaí de noite e dormia da pracinha da Pedra Bela para escalar bem de manhãzinha! Que disposição!

Na nossa turma não tem essa de barrinha energética e carbogel não, nosso segredo é a boa e velha mortadela mesmo!

Miltão no Visual das Águas, lugarzinho que a gente vai muito!

Esse é o Silas mandando ver lá na Dib.

Palestra do Victor Negreti (falecido no Everest, segundo de pé da esquerda para a direita) para a Associação da Montanha.

Eu na Pedra Bela.

Essa foto é clássica, eu na minha primeira escalada em 1990 no curso da extinta Lazer: Guias de Montanha, Teresópolis, instrutor Chiquinho. Pão de Açúcar, via ferrata no cabo CEPI. Doideira pura!

Alta montanha: Glaciares do nevado Huayna Potosy na cordilheira real, Bolívia.

O tempo passa, o tempo voa... Esse aí é o Marcelo em 1998 ancorado na via Teixeira no Dedo de Deus.

E é isso aí, espero que daqui a dez anos a gente tenha ainda muita foto nova pra ficar apreciando. Vamos escalar!