A história da conquista
O ano era 1940 e a conquista ao topo do imponente Baú, que a despeito do nome chama-se assim, por ser uma abreviação de Embáu que em tupi-guarani significa local de vigia com 1950 metros de altitude e paredes de granito com até 360 metros de altura se tornava um tormento para um pacato cidadão de São Bento do Sapucaí de nome Antônio Teixeira de Souza, pedreiro de profissão ele não se conformava com o fato de que ninguém houvera subido a pedra, e mais, queria ser ele o primeiro a por os pés em seu cume. As tentativas foram muitas e em algumas delas teve que ser resgatado por amigos, pois se embrenhava de tal forma em suas escarpas que depois não conseguia descer, porém na noite do dia 12 de agosto de 1940 Antônio que já contava com 51 anos de idade teve um sonho, no qual fora revelado a ele que a face sul do lado de Campos do Jordão é a que deveria ser galgada pela primeira vez. Levantou-se de madrugada ainda meio confuso com o sonho que tivera, e pôs-se a arrumar seu material de conquista, (martelo, uma pequena foice e três metros de corda). Sem perder tempo Antônio descreveu seu sonho ao irmão João também entusiasta da subida, e os dois partiram ainda de madrugada com o precário equipamento que ainda hoje provoca reações de pavor e respeito, foram eles intrépidos e confiantes. A escalada se mostrou mais complicada do que se imaginava, pois além das dificuldades técnicas a quantidade de vegetação presa à parede dificultava muito o progresso, e dava uma falsa sensação de que poderiam se agarrar com firmeza, no final de um dia de muita luta conseguiram realizar o maior sonho de Antônio e um verdadeiro marco na História do montanhismo nacional. E assim escreveu em seu diário: “A escalada da pedra do Baú oferece inúmeros perigos, pois possui trechos quase intransponíveis de pedreiras e abismos profundos. A respeito desse titã de pedra interessantes lendas brotaram da imaginação fértil dos sertanejos que habitavam as suas vizinhanças. Conta uma delas, que bem no alto, no pico da pedra do Baú existe um grande lago onde nas noites de lua cheia Yara a mãe d’água vai banhar-se, tendo arrastado para o fundo das águas aqueles que, em tempos remotos, ousaram escalar a montanha. Outras histórias fabulosas transmitidas de gerações em gerações até os nossos dias são contadas, como a que diz que no topo da pedra do Baú assim como a maravilhosa”edelweiss” dos Alpes, um diamante existe, tão grande e brilhante que as crianças que se detivessem a admirar as suas cintilâncias um só instante não tardariam a ficar cegas. E com essas histórias em tempos idos as meigas e ingênuas mucamas e as velhas mães pretas, assombravam os filhos da Sinhá para fazê-los adormecer.Como várias pessoas duvidassem que os irmãos “Cortez” , como são mais conhecidos os Teixeira, tivessem alcançado o pico da grande rocha, prontificaram-se eles a repetir a façanha no dia 19 do corrente.
Efetivamente nesse dia mais de trezentas pessoas, entre as quais as autoridades de São Bento do Sapucaí, dirigiram-se ao maciço existente ao lado da pedra do Baú (Ana Chata), também de considerável altura, mas cuja escalada acessível pode ser vencida sem dificuldades, afim de observarem desse ponto a repetição do feito audacioso dos irmãos Teixeira. Não faltou também a presença de uma banda de música. Do cimo da pedra essas pessoas observavam com ansiosa expectativa, o aparecimento dos arrojados jovens na pedra do Bahú, servindo-se dos bons ventos os irmãos Cortez apareceram no ponto culminante da montanha hasteando a bandeira brasileira, enquanto no segundo plano ao som do hino nacional, a multidão de curiosos prorrompia em ensurdecedoras aclamações aos alpinistas. (19 de agosto de 1940 - Diário de Antônio Cortez)”.
Antônio sem se dar conta abriu caminho por uma rota que após cinco anos fora acrescida de degraus metálicos e cabos de aço em seus trechos mais verticais para servirem de acesso comum aos moradores mais valentes daquelas paragens. O sonho ainda não estava completo Antônio achava que deveria ter uma escada na parede que ficava de fronte à sua cidade e após algum tempo da construção da primeira, recebeu permissão e apoio financeiro daquele que era dono dessas terras e muito seu amigo o Empresário Luiz Dummont Villares. Do término da construção das escadas para a construção de um refúgio que foi o primeiro do Brasil construído nos moldes europeus, não se deu muito tempo, o que se sabe, porém é que o refúgio era construído de madeira levada lá para cima com muito custo, e era provido de captador de água externo, beliches, lareira e até um sino de bronze, tudo feito com muito capricho coroado por um erro fatal: não havia supervisão constante, portanto o que antes era um belíssimo ponto de pernoite foi aos poucos virando lenha para a fogueira dos mais inescrupulosos vândalos que por ali passaram. E hoje em dia o piso dessa construção é a única coisa que restou para a lembrança desse tempo.
Fotos:
Foto: Antônio Cortez |
Material para construção do Refugio |
Material para construção do Refugio |
Escada na Rocha |
Refúgio |
Vista do Refúgio |
O Baú nos dias de hoje - Escaladas e Caminhadas
Fazem mais de sessenta anos da conquista e hoje em dia o complexo da Pedra do Baú (Baú, Ana Chata e Bauzinho) como já foi dito anteriormente, constitui-se em um dos principais pólos do excursionismo e escalada paulista e um dos mais importantes do Brasil, além de seus dois acessos por escadas recém reformadas, conta com inúmeras vias de escaladas em granito dos mais variados graus de dificuldade além do que duas grandes vias que podem exigir do escalador uma pernoite na parede. As escaladas técnicas começaram a ser praticadas nessas pedras na década de setenta, sendo que as vias mais antigas são também algumas das mais freqüentadas por escaladores, no Baú a via “Normal ou com a variante Cresta” são as mais freqüentadas, já no Bauzinho a “Normal da face norte e a Tudo Bem da face sul”, e na Ana Chata a “via dos Lixeiros” que era considerada a mais longa de todo o conjunto na época.
As técnicas utilizadas para escalada podem variar do livre: modalidade em que o escalador utiliza o equipamento somente para sua segurança em caso de queda, ao artificial: modalidade em que a utilização de estribos(escadinhas) é fundamental para a progressão do escalador, pois se subentende que a parede não possui bons pontos de apoio para progressão natural.
O importante é que o escalador que para lá se dirija saiba corretamente as técnicas de segurança, bem como de manuseio de equipamentos (vide box de serviços), além de informar-se a respeito da via que ira escalar, para tanto recomendamos a aquisição do “Manual de Escaladas da Pedra do Baú” por Eliseu Frechou (vide box de serviços), que contém todas as informações necessárias para entrar nas diversas vias desse conjunto.
Subir a pedra do Baú e pernoitar em seu cume com tempo bom, constitui-se em uma experiência única e também um clássico passeio de caminhada nessa região da Mantiqueira, nesse sentido a melhor opção é ir por São Bento do Sapucaí, pacata cidadezinha alcançada por ônibus diário saindo da rodoviária do Tietê em São Paulo.
Cuidados e dicas para integrar-se ao meio ambiente local
- A região ao redor do Baú, numa distância de quatro quilômetros a partir de sua base, é área de proteção ambiental desde 1987 de acordo com a lei municipal (numero 548), porém não existe nenhum tipo de fiscalização que barre a entrada do visitante.
- Pela existência de moradores dentro deste perímetro é muito importante que ao passar por porteiras feche-as como antes para que os animais de criação não escapem.
- Leve todo o lixo de volta para a cidade, isto inclui bitucas de cigarro. Não utilizar nenhum produto de limpeza tipo detergente, sabonete ou shampoo nas bicas que encontrar pelo caminho pois a mesma água que você utilizar, uma outra pessoa que estiver em um desnível inferior pode também usar.
- Não faça barulho demasiado para não afugentar os poucos animais silvestres que ainda existem, e por vezes aparecem.
Por: Marcello Cyrillo Vazzoler
Fonte: www.porva.com.br
Por: M.Marques
milton@mxb.com.br
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