sábado, 31 de dezembro de 2011

Incêndio na Patagônia Chilena se aproxima de recorde negativo

Polícia chilena deteve turista que teria causado o gigantesco incêndio

O Chile começou a última semana do ano com uma de suas piores tragédias ambientais em décadas. O incêndio no Parque Nacional Torres del Paine, no extremo sul do país, já destruiu mais de 11 mil hectares (pouco mais de 5% de sua extensão total), em um panorama que, segundo a Onemi (Departamento Nacional de Emergências do Chile), poderá se transformar, nos próximos dias, no maior desastre ecológico sofrido pela Patagônia Chilena nos últimos 50 anos - o maior aconteceu em 2005, e consumiu pouco mais de 15 mil hectares do mesmo parque.

As chamas já duram cinco dias e começaram na última terça-feira (27/12), quando consumiram cerca de 1,5 mil hectares, e se espalharam em seis diferentes focos presentes nos setores central e sul do complexo, dos quais a Onemi assegura haver controlado dois durante a manhã deste sábado (31). Vicente Nuñez, diretor geral do departamento, afirmou que “as condições climáticas favoráveis, sobretudo a menor força do vento, nos desafiam a tentar controlar um terceiro foco até o fim do dia, pois o domingo e a segunda deverão ter um panorama bastante adverso”. Baseado na magnitude da emergência, Nuñez descartou a possibilidade de extinguir todos os focos em menos de uma semana.



O incêndio se tornou também um novo motivo de críticas ao fragilizado governo de Sebastián Piñera, desta vez pela demora em enviar uma operação especial para combater a emergência. A Ação Ecológica, grupo ambientalista de maior prestígio no país, foi o primeiro a questionar a reação tardia do Palácio de La Moneda com respeito ao incidente no Sul. Em entrevista ao Opera Mundi, Luis Mariano Rendón, coordenador geral da ONG, destacou que naquele primeiro dia, a maioria dos que trabalhavam na contenção do fogo eram voluntários argentinos. “As autoridades subestimaram o perigo, e agora sofremos com uma catástrofe que pode durar até uma semana, dependendo das condições climáticas”, analisou.

Na tarde desta sexta-feira (30/12), o próprio presidente Piñera decretou alerta vermelho em todo o perímetro do parque e anunciou a primeira operação especial do exército chileno enviada ao local, com quatro aviões, dez caminhões-pipa e cerca de 300 pessoas, entre bombeiros, pessoal do exército e voluntários. O presidente chileno também confirmou a solicitação de ajuda internacional, mais precisamente de Argentina, Austrália e Estados Unidos. Às 20h, a Conaf (Corporação Nacional Florestal do Chile, órgão estatal responsável pela administração dos parques nacionais do país) informou que todos os turistas e moradores do setor haviam sido evacuados - cerca de 400 pessoas, entre chilenos e estrangeiros e que o parque permanecerá fechado pelo menos durante todo o mês de janeiro.

As novas medidas não frearam as críticas dos ambientalistas, que continuaram considerando a ação do governo insuficiente. O principal parâmetro de comparação foi o acidente aéreo ocorrido na ilha de Juan Fernández, em setembro passado. Naquela ocasião, o ministério da Defesa organizou em menos de 24 horas a Operação Loreto, que mobilizou três navios, 15 aviões e mais de 500 oficiais da marinha e da aeronáutica, para localizar os restos das 21 vítimas fatais, entre as quais se encontrava um conhecido empresário e um dos mais importantes apresentadores de televisão do país.




Histórico de incêndios


Localizado na província chilena de Magallanes, o Parque Nacional Torres del Paine, fundado em 1959, é o mais extenso da Patagônia Chilena e o que registra, desde sua criação, as tragédias incendiárias mais vorazes de toda a região. A primeira de maior impacto ocorreu em 1985, quando um grupo de exploradores destruiu cerca de 14 mil hectares.

Vinte anos depois, um turista tcheco usou fogo para atacar animais silvestres e terminou provocando uma queimada que afetou pouco mais de 15 mil hectares - na ocasião, o governo da República Tcheca pediu desculpas formalmente ao governo chileno, e ofereceu ajuda nos trabalhos de reflorestamento do parque. Segundo Vicente Nuñez, diretor geral da Onemi, o incêndio de 2005 foi muito menos intenso que o atual e durou 29 dias. “Isso nos faz pensar que os trabalhos de combate a esta emergência podem durar mais de mês”, comentou.

O presidente da Ação Ecológica, Luis Mariano Rendón, afirmou que, em consultas feitas pela organização a funcionários que trabalham no parque, se constatou que os antecedentes não serviram para melhorar as condições de segurança e a estrutura para o combate de incêndios em grande escala. “Em 2005, quando houve a última queimada, a estrutura era quase a mesma de hoje, apenas substituíram os antigos vigilantes de incêndio por câmeras de monitoramento”, assegura.

Rendón, advogado de formação, afirmou que o Chile não está preparado para enfrentar eventos desse tipo, e considera que as primeiras mudanças para reverter esse quadro deveriam ser políticas. Ele usou o exemplo do Brasil, onde os estados são administrados por governadores eleitos, para ilustrar que a falta de autonomia administrativa das províncias chilenas explica, em parte, a demora em haver uma reação melhor coordenada em locais distantes de Santiago, já que no Chile as autoridades provinciais são nomeadas pelo presidente: “necessitamos poderes regionais democráticos, capazes de lidar com emergências desse tipo”.

O ambientalista também lembrou que o processo de reflorestamento do Parque Nacional Torres del Paine, iniciado após o incêndio de 2005, ainda não havia sido concluído (segundo os dados oficiais, as áreas afetadas até agora não coincidem com as que foram atingidas há seis anos), e o atual tardará muito mais em ser recuperado, já que “se trata de um ecossistema muito frágil e com condições climáticas adversas.


“Fogo era controlável”


Outro testemunho que complica o governo surgiu na manhã deste sábado (31/12), quando La Prensa Austral, um dos principais portais de notícias do sul do Chile, publicou uma entrevista com o guia turístico Felipe Rudloff, funcionário que registrou o primeiro foco de incêndio.

Rudloff relatou que no fim da tarde da última terça-feira (27/12), por volta das 18h, enquanto acompanhava visitantes franceses pelas imediações do Bosque Grey, uma das turistas aponta uma nuvem de fumaça próxima ao local. “O incêndio que encontrei ocupava cerca de 32 metros quadrados, e a superfície ao redor apresentava muitos elementos combustíveis e secos”, contou o guia.

A velocidade do vento foi outro elemento importante levantado por Rudloff, já que no momento do descobrimento daquele primeiro foco, segundo seu relato, soprava uma brisa suave que deveria ter facilitado o trabalho de extinção das chamas. Os ventos mais agressivos que aceleraram o alastrar das chamas teria chegado somente no dia seguinte.

A Conaf já confirmou a informação de que o primeiro alerta oficial (enviado por Rudloff) foi registrado às 18h30 e que a primeira lancha com pessoal de combate a incêndios chegou somente às 22h45. O guia havia se retirado do parque três horas após o alerta enviado à Conaf, mas assegura que naquele momento o fogo era absolutamente controlável e questionou aquela primeira reação. “Por que não chegaram antes, com mais gente e mais poder de ação, aproveitando que o clima era favorável e havia um riacho por perto?”.



Israelense detido

O Departamento de Investigações Especiais dos Carabineros do Chile (polícia militarizada do país) anunciou às 12h45 (13h45 de Brasília) que um cidadão israelense, identificado como Roter Singer, foi detido na cidade de Puerto Natales, principal centro urbano nas proximidades do Parque Nacional Torres del Paine. Segundo a autoridade policia, Singer teria confessado ser o autor do primeiro foco de incêndio iniciado na terça-feira e que já consumiu mais de 11 mil hectares do parque, o maior da Patagônia Chilena.

O turista isralense deve ter sua detenção formalizada por volta das 16h e será enquadrado no artigo 22 da lei de bosques, que prevê desde uma multa (que pode variar de mil a cinco mil reais) até dez anos de prisão, dependendo do caso. Ainda não há informações, no entanto, se o incêndio foi acidental ou proposital.

Fonte: http://operamundi.uol.com.br/conteudo/noticias/18871/incendio+na+patagonia+chilena+se+aproxima+de+recorde+negativo.shtml

2 comentários:

Nilson Soares disse...

Amigos,

Uma pena termos que iniciar o ano novo com uma notícia muito triste dessas.

Nunca fui, ao menos fisicamente, ao Parque Del Paine, mas tenho amigos que fizeram a travessia do parque e tiraram fotos maravilhosas desse lugar até então quase intacto da natureza.

Abs e feliz ano novo,

Nilson Soares
www.baiaodeideias.blogspot.com

Marcelo Wood disse...

É uma pena mesmo Nilson;

Eu aguardo a mais de dez anos pra ir conhecer o parque e estou com a passagem comprada para ir pra lá na semana que vem, agora com essa notícia terei que mudar os planos as pressas. Parece que o incêndio foi controlado, ainda bem!

Abraço e feliz ano novo