sexta-feira, 30 de maio de 2008

Animais Peçonhentos: Serpentes

Neste post trataremos principalmente as serpentes, em um outro post futuro trataremos as aranhas, escorpiões, abelhas e vespas.

Caracterização das serpentes:

Os ofídios, conhecidos também como cobras ou serpentes, são animais vertebrados e ao lado dos lagartos, jacarés e tartarugas compõem o grupo dos répteis. No mundo, são conhecidas atualmente cerca de 2.900 espécies de serpentes, distribuídas entre 465 gêneros e 20 famílias. No Brasil há representantes de 9 famílias, 75 gêneros e 321 espécies, aproximadamente 10% do total de espécies. Estes animais apresentam como características:

- Corpo alongado, coberto por escamas;

- Trocam de pele a medida que crescem, o qual acontece ao longo de toda a vida do animal;

- Não possuem membros locomotores;

- Não possuem ouvido externo. Percebem as vibrações do solo através do próprio corpo, que encontra-se em contato com o substrato;

- Os olhos não possuem pálpebras móveis, dando a impressão de permanecerem sempre abertos;

- A língua bífida, isto é, dividida em duas pontas, permite que o animal explore o ambiente, captando partículas que se encontram suspensas no ar e encaminhando-as ao órgão de Jacobson, o qual localiza-se no “céu da boca” e desempenha função semelhante ao olfato;

- Os órgãos das serpentes são como os dos demais vertebrados, porém apresentam formato alongado. As cobras, assim como as aves, não possuem bexiga, expelindo a urina juntamente com as fezes, através da cloaca.

As serpentes ocupam quase todos os tipos de ambientes do globo terrestre, com exceção das calotas polares, onde o clima frio impede a sobrevivência de animais ectotérmicos, isto é, animais que obtêm energia a partir de fontes externas, não metabólicas. Os ofídios podem ser aquáticos ou terrestres. Entre os aquáticos há os que vivem em água doce e os marinhos. No ambiente terrestre, ocupam os hábitats fossoriais, arborícolas ou terrestres, podendo viver em matas, savanas ou desertos.

Os ofídios são exclusivamente carnívoros, alimentando-se tanto de vertebrados quanto de invertebrados, os quais são engolidos inteiros, em alguns casos até 3,5 vezes o seu diâmetro. Quanto ao tamanho estes animais pouco mais de 10 cm até cerca de 10 metros, como a sucuri.

As cobras possuem os dois sexos e sua reprodução pode ocorrer de duas formas. Através da postura de ovos (ovíparas) em locais com condições de temperatura e umidade adequados ou pelo nascimento de filhotes já desenvolvidos. A quantidade de ovos ou de filhotes varia de acordo com a espécie.

Cobra: Venenosa ou Não Venenosa?

Esta é uma pergunta bastante freqüente, pois é existe uma grande variedade de serpentes e muitas delas apresentam semelhanças entre si, algumas vezes dificultando a diferenciação entre os animais que são perigosos e os que não são. Porém, existem algumas características que facilitam o reconhecimento de ofídios que podem provocar acidentes por envenenamento.

Animal venenoso é aquele que secreta alguma substância tóxica para outros animais, inclusive para o ser humano. Estas substâncias, ou venenos, podem estar presentes na pele ou em outros órgãos e tem a função de proteção contra predadores. Alguns peixes, diversos anfíbios e alguns invertebrados são exemplos de animais venenosos.

Existem animais que, além de possuírem veneno, possuem estruturas especializadas (dentes, ferrões, espinhos), capazes de inocular seus venenos. Quando isto ocorre, os animais são chamados de peçonhentos. As abelhas, marimbondos, lagartas, aranhas, escorpiões, alguns peixes e as cobras são exemplos de animais peçonhentos.

Principais características das serpentes:

As cobras consideradas venenosas ou peçonhentas possuem glândulas secretoras de veneno localizadas de cada lado da cabeça, recobertas por músculos compressores e conectadas, através de ductos, às presas inoculadoras de veneno. Estas presas têm tamanho diferenciado dos demais dentes e podem estar localizadas nas porções anterior ou posterior da boca.

Podem ser observados quatro tipos de dentição:

1. DENTIÇÃO ÁGLIFA:
Não existem dentes inoculadores e nem glândulas secretoras de veneno. Está presente em jibóia, sucuri, boipeva.
* Desenho esquemático da cabeça de uma serpente áglifa – observe todos os dentes iguais e voltados para trás.

2. DENTIÇÃO OPISTÓGLIFA: Dentes inculadores fixos, contendo um sulco por onde escorre a substância secretada pelas glândulas de veneno. Estão localizados na região posterior da boca, um de cada lado da cabeça. Este tipo de dentição é encontrado em falsas-corais, muçuranas e cobras-cipó.* Desenho esquemático da cabeça de uma serpente opistóglifa – observe o dente modificado presente na região posterior da boca.

3. DENTIÇÃO PROTERÓGLIFA: Dentes inculadores fixos, localizados na região anterior da boca. Esta dentição é característica das corais verdadeiras.
* Desenho esquemático da cabeça de uma serpente proteróglifa – observe o dente modificado presente na região anterior da boca. Estes dentes apresentam um sulco profundo através do qual o veneno penetra no local atingido pela mordida do animal.

4. DENTIÇÃO SOLENÓGLIFA: Os dentes inoculadores de veneno estão presentes e localizam-se na região anterior da boca. Estes dentes são móveis e grandes, com um canal por onde o veneno penetra no local atingido pela mordida do animal.

* Desenho esquemático da cabeça de uma serpente solenóglifa – observe o dente modificado presente na região anterior da boca.

Diferenças entre serpentes venenosas e não venenosas:

As jararacas, cascavel e a sururucu, possuem em comum, a fosseta loreal, um orifício localizado entre a narina e o olho, em cada lado da cabeça. Somente as serpentes peçonhentas possuem este órgão. Vale a pena ressaltar que existem serpentes venenosas que não possuem fosseta loreal, como é o caso das corais verdadeiras.
A fosseta loreal tem como função a captação de calor, que permite às serpentes perceberem as diferenças de temperatura no ambiente.

*Corpo coberto por escamas em forma de quilha

As cobras venenosas também apresentam como características básicas:

*Região dorsal da cabeça de serpente do gênero Bothrops (jararaca).

*Região dorsal da cabeça de serpente do gênero Crotalus (cascavel).
*Região dorsal da cabeça coberta por pequenas escamas

- As cascavéis, jararacas e surucucus apresentam dentição do tipo solenóglifo.

*Detalhe da cabeça de cascavel demonstrando as presas inoculadoras de veneno.

* As corais verdadeiras possuem dentição do tipo proteróglifo e a região dorsal cabeça coberta por placas ou escudos.*Região dorsal da cabeça coberta por placas.



Principais Serpentes Peçonhentas Do Brasil:

Estatisticamente 19% dos acidentes com serpentes acontecem nas mãos e antebraços e 80% abaixo dos joelhos, isso demonstra a importância do uso de calçados adequados em atividades ao ar livre, em locais com grande população de serpentes é indicado o uso de perneiras.
Como existem diferentes tipos de soro que variam de acordo com cada espécie, é importante que no caso de acidente a espécie seja identificada para agilizar os procedimentos no atendimento do paciente.
Continuando com os dados estatísticos, as Jararacas(gênero Bothrops) são responsáveis por 90% dos casos de acidente com serpentes no Brasil, abaixo seguem os principais tipos de jararacas.

Jararacas (gênero Bothrops)


Também conhecidas por "jararacuçu", "urutu", "jararaca do rabo branco", "cotiara", "caiçaca", "surucucurana","patrona","jararaca-pintada","preguiçosa" e outros.

Características: Coloração variada com padrão de desenhos semelhantes a um "V" invertido. Corpo fino medindo aproximadamente um metro de comprimento.
Possui fosseta loreal (orifício localizado entre o olho e a narina). A cauda é lisa e afilada.

Habitat: É encontrada principalmente nas zonas rurais e periferia de grandes cidades, em lugares úmidos e em que haja roedores (paióis, celeiros, depósitos de lenha etc.).

Distribuição geográfica: Encontrada em todo o território brasileiro.

Sintomas após a picada: Dor, inchaço e manchas arroxeadas na região da picada. Pode haver
sangramento no local, e em outras partes do corpo, como nas gengivas, ferimentos recentes e urina. É possível haver complicações, como infecção e morte do tecido (necrose) no local picado. Nos casos mais graves, os rins param de funcionar.

Tipo de soro: Antibotrópico ou antibotrópico-laquético.

A família das jararacas:

Cascavel (gênero Crotalus)

É responsável por 8% dos acidentes ofídicos registrados no país. Também e conhecida por "maraboia", "boicininga", "boiquira", "maracá" e outros.

Características: Coloração: marrom-amarelada e corpo robusto, medindo aproximadamente um metro.
Possui fosseta loreal e apresenta caracteristicamente chocalho ou guizo na cauda. Não tem por hábito atacar e, quando ameaçada, começa a balançar a cauda, emitindo o ruído do chocalho ou guizo.

Habitat: Campos abertos, áreas secas, arenosas ou pedregosas. Encontrada em algumas plantações, como café e cana.

Distribuição geográfica: Encontrada em quase todo o território brasileiro, com exceção da Floresta Amazônica (apesar de já to sido relatada a presença em locais de campos abertos), zona da Mata Atlântica e regiões litorâneas.

Sintomas após a picada: No local quase não ha alterações. A vitima apresenta visão borrada ou dupla, pálpebras caídas e aspecto sonolento. Pode haver dor muscular e a urina torna-se escura algumas horas depois do acidente. O risco de afetar os rins é maior do que nos acidentes com jararaca.

Tipo de soro: Anticrotálico.

Coral (gênero Micrurus)

É responsável por cerca de 0,5% dos acidentes ofídicos registrados no país. Também conhecida por "coral verdadeira", "ibiboboca", "boicorá" e outros.

Sintomas após a picada: No local da picada não se observa alteração importante, porem a vitima apresenta visão borrada ou dupla, pálpebras caídas e aspecto sonolento. Pode haver aumento na salivação e insuficiência respiratória.

Características: São serpentes de pequeno e médio porte, com tamanho em torno de um metro.
Não possuem fosseta loreal. Seu corpo é coberto por anéis vermelhos, pretos,brancos ou amarelos.Na Região Amazônica existem algumas espécies com padrão diferente, como, por exemplo, branco-e-preto. É importante prestar bastante atenção nas cores da coral. Em todo o país existem serpentes não venenosas com coloração semelhante a das corais verdadeiras: são as falsas-corais.

Habitat: Vivem no solo sob folhagens, buracos, entre raízes de árvores, ambientes florestais e próximo de água.

Distribuição geográfica: Encontradas cm todo o território brasileiro.

Tipo de soro: Antielapídico.

COMO PREVENIR ACIDENTES:

- Use sempre botas de cano alto ou botinas com peneiras, bem como luvas de raspa de couro com mangas de proteção nas atividades que ofereçam riscos para os bravos e mãos.

IMPORTANTE SABER QUE:

- O uso de botas pode evitar 80% dos acidentes.

- O uso de sapatos comuns pode evitar até 30% dos acidentes.

- Para evitar a presença das serpentes nas proximidades da residência, é importante realizar a limpeza das áreas ao redor da casa, paiol ou plantação, eliminando montes de entulho, acumulo de lixo ou de folhagens secas e alimentos espalhados no ambiente. Estas medidas evitam a aproximação de ratos, pois, como se sabe, são o principal alimento das serpentes.

- Sempre que for remexer em buracos, folhas secas, vãos de pedras, ocos de troncos ou caminhar pelos campos, use um
pedaço de pau ou graveto. Eles ajudam a evitar acidentes.

- Os vãos em portas, janelas e muros devem ser tapados. Nas soleiras das portas é necessário colocar sacos de areia (em
forma de cobra) para vedá-las. Nas janelas colocar telas, evitando-se, desse modo, a entrada de animais peçonhentos.

- Não se deve segurar as serpentes com as mãos. Mesmo quando mortas, suas presas continuam sendo um risco de envenenamento.

EM CASO DE ACIDENTES MEDIDAS A SEREM TOMADAS:

- NÃO FAÇA TORNIQUETE nem amarre o braço ou a perna acidentada. O torniquete, ou garrote dificulta a circulação do sangue, podendo produzir necrose ou gangrena e não impede que o veneno seja absorvido.

- NÃO SE DEVE CORTAR O LOCAL DA PICADA. Alguns venenos podem provocar hemorragias e o corte aumentará a perda de sangue.

- NÃO ADIANTA CHUPAR O LOCAL DA PICADA. É impossível retirar o veneno do corpo, pois ele entra imediatamente na corrente sanguínea. A sucção pode piorar as condições do local atingido.

- Não coloque folhas, querosene, pó de café, terra, fezes e outras substâncias no local da picada, pois elas não impedem que o veneno vá para o sangue. Ao contrário, podem provocar uma infecção, assim como os cortes.

- Não deixe que o acidentado beba querosene, álcool e outras substâncias tóxicas que, além de não neutralizarem a ação do veneno, podem causar intoxicação.

- Mantenha o acidentado deitado, em repouso com a parte atingida em posição mais elevada, evitando que ele ande ou corra.

- Retire anéis, pulseiras ou qualquer outro objeto que possa impedir a circulação do sangue.

- Leve imediatamente o acidentado ao serviço de saúde, para que ele receba soro e atendimento adequados.

- O soro, quando indicado, deve ser aplicado o mais breve possível e em quantidade suficiente, por profissional habilitado. Deve ser específico para a serpente que o picou. Ex.: o soro antibotrópico para picadas de jararaca não é eficaz para picadas de cascavel (deve ser o soro anticrotálico) ou de coral (soro antielapídico).

FONTES:

Site da Fundação Ezequiel Dias:
http://www.funed.mg.gov.br/animais_peconhentos/caracterizacao/index.php

Site do Instituto Butantan:
http://www.butantan.gov.br/

Manual de Prevenção de Acidentes com Animais Peçonhentos:
www.fundacentro.gov.br/ARQUIVOS/PUBLICACAO/l/Prevenção%20de%20Acidentes%20com%20Animais%20Peçonhentos.pdf

2 comentários:

André Zancanaro disse...

Lendo esse post lembrei de uma piada:

Dois mateiros estava caçando quando um deles foi fazer xixi e acabou sendo picado bem na cabecinha do danado. Era uma cobra super-venenosa!
O mateiro começou a gritar:
"Me ajude, me ajude, a cobra picou meu pinto, corre lá na vila e fala pro dotô o que tem que fazer! Rááááápido!"
O outro saiu correndo e foi falar com o médico. Chegando lá o doutor explicou que só tinha um jeito, e era chupando o local da picada para extrair o veneno.
Passado meia hora o outro mateiro chega até o local do acidente, ofegante. O outro diz:
"E aí, o que o dotô disse?"
O amigo respondeu:
"Que você vai morrer!"
HAHAHAHAHAHAHAHHAA...

Marcelo Wood disse...

Essa é velha heim!!!

Vc viu na praça é nossa???kkkk