quinta-feira, 21 de outubro de 2010

A múmia da Chaminé Gallotti


Ontem, pela manhã, três membros do Club Excursionista Carioca, ao tentarem escalar o Pão de Açucar, pelo lado do mar, por um ponto ainda não explorado, depararam com um quadro macabro. Numa das pequenas fendas que se ligam ao corte principal, denominado pelos audazes alpinistas de “chaminé Galotti”, em homenagem ao senador Galotti, amigo e adminrador dos componentes do Club, os excursionistas Antonio Marcos de Oliveira, morador à Rua Real Grandeza n 188 e Tadeusz Hollup, residente à rua Monte Alegre n. 39, juntamente com o guia Ricardo Menescal, morador na Av. Copacabana n. 664, ap. 201, descobriram um corpo completamente mumificado.

Um sapato de mulher
A reportagem de A NOITE, informada do ocorrido, entrou imediatamente em ação, comunicando-se com o guia do grupo, Ricardo Menescal, que nos relatou o tétrico achado em detalhes.
– Há algum tempo, principiou estudarmos a possibilidade de escalarmos o Pão de Açucar po rum ponto ainda não explorado e, no domingo retrasado, estivemos no ponto mais elevado, isto é, no cume, examinando e esudando as possibilidades. Ontem, resolvemos levar a efeito a tentativa e, depois das 7 horas, encontramo-nos, eu e meus dois companheiros, na praça existente na Praia Vermelha. Dali, conduzindo grampos, martelos, brocas e outros petrechos técnicos, dirigimo-nos para a mata que circunda a base do cume a ser escalada. Costeamos o paredão que o circunda. Ali encontramos um sapato de mulher, um tanto carcomido pelo tempo. Com o achado, surgiram as pilhérias, e com estas uma fictícia busca para o encontro do corpo de uma mulher. Tudo, entretanto, não passava de simples brincadeira. Mal sabiamos que, posteriormente, estaríamos em asento frente à frente com uma realidade chocante.

Impressionante mistério numa fenda do Pão de Açucar

Preso pelo queixo – seriam 11,30 horas quando Antonio Marcos, tentando passar para uma outra fenda, deparou com um quadro brutal, chocante.. Um cadáver, trajando apenas um “pullover” branco, estava no interior da fenda, em posição vertical, dependurado numa saliência, pelo queixo.
Antonio Marcos deu alarma, gritou pelos companheiros.
– Custamos a atendê-lo, pois, momentos antes, haviamos brincado, como disse, em torno do encontro do sapato de mulher. Ante o seu nervosismo insistente, porém, resolvemos acompanhá-lo, deparando-se-nos, então, a todos três, com o quadro impressionante.

Um botão descomunal – Nenhum papel, ou qualquer outra peça do seu vestuário, a não ser o “pullover”. Entretanto, próximo ao local, mesma na fenda, consegui divisar o botão branco, de tamanho pouco vulgar. A meu ver, acrescentou, dada a proximidade em que se achava, deve existir alguma relação entre ele e o cadáver.

Características do morto – O corpo, pode-se dizer, segundo nos relatou o alpinista do Club Carioca, está completamente mumificado, em alguns lugares, descarnado.

Fato Curioso – acrescentou – a princípio julgamos tratar-se de um corpo de mulher, pelos longos cabelos que caíam sobre os ombros, balouçando levemente ao sopro da brisa do marítima.

O local é de difícil acesso e, para um exame mais acurado, tivemos que nos manter suspensos pelas cordas. O corpo, como já relatei, apresenta cabelos compridos, castanhos. No queixo uma pequena barba, e o nariz, arrebitado.

Marcado o local – finalizou – descemos após um rápido almoço, e imediatamente comunicamos o fato ao comissário Mauro, de dia na delegacia do 3º distrito policial.

Indivíduo Jovem
Após a entrevista com Ricardo Menescal, que nos obsequiou ainda com um gráfico do local escalado, bem como o ponto em que foi encontrado o cadáver, palestramos ligeiramente com Antonio Marcos, outro jovem excursionista e que foi o primeiro a divisar o corpo. Disse-nos que, na ocasião, supôs tratar-se de uma mulher, aliás jovem, dado o aspecto geral do cadáver.

Entretanto, olhando mais detidamente, verificou pela barba, tratar-se de um ente do sexo masculino. Qaunto ao botão encontrado, pensa que o mesmo pertença a uma peça do vestuário do morto, muito embora tenha sido encontrado um pouco mais acima, onde também divisou alguns cacos de um prato, o que lhe trouxe maior confusão em torno do estranho achado.

Finalmente, Tadeusz Hollup o terceiro do grupo de jovens alpinistas, confirmou as declarações de seus companheiros, dizendo-se ainda disposto a enfrentar outra escalada, o que se verificará na manhã de hoje.

Bombeiros e polícia
Ao local acorreu a turma do Serviço de Proteção do Corpo de Bombeiros, chefiada pelo 2º tenente Manoel Luiz da Silva, que, dada a hora tardia, resolveu transferir os trabalhos de escalada para a manhã de hoje, de acordo com a autoridade policial encarregada do caso.

Fonte: Jornal A NOITE (19 de setembro de 1949 – segunda-feira)

– transcrição da matéria publica no Jornal A NOITE, de 19 de setembro de 1949 (segunda-feira), 1ª e 2º páginas.
foto: Utaro Kanai (Jornal A NOITE)
Pesquisa: Acervo da Biblioteca Nacional
por Claudio Aranha

Fonte: http://victortrotamundo.wordpress.com
Por: M.Marques
milton@mxb.com.br

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